
Quando pensamos nas fundações da fé cristã, para onde nossa mente viaja? Roma? Jerusalém?
E se disséssemos que o coração intelectual e moral da Igreja primitiva batia forte na África?
Muito antes de o Evangelho se espalhar pela Europa, o Norte da África já produzia teólogos e mártires cuja influência definiu a própria fé.
Suas histórias não são notas de rodapé; são as manchetes esquecidas da nossa fé. Vamos redescobrir três desses gigantes.
Primeiro, conheça Tertuliano de Cartago (c. 155-240 d.C.), da atual Tunísia. Conhecido como o "Pai do Cristianismo Latino".
Advogado de formação, ele trouxe a precisão de um tribunal e a ousadia de um moralista africano para a teologia.
Ele foi o primeiro grande teólogo a escrever extensivamente em latim, traduzindo a fé para a língua do Império Romano.
Foi Tertuliano quem cunhou o termo "Trindade" (Trinitas) para descrever o Pai, o Filho e o Espírito Santo. Um conceito que permanece no centro da fé até os dias de hoje.
Talvez o mais influente de todos seja Agostinho de Hipona (354-430 d.C.), da atual Argélia.
Nascido de mãe cristã devota, chamada Santa Mônica, e pai berbere, sua identidade estava mergulhada na cultura norte-africana.
Sua juventude foi marcada por uma busca inquieta pela verdade, levando-o por filosofias pagãs e uma vida de excessos.
Mas as orações de sua mãe e a pregação de Ambrósio em Milão o levaram a uma conversão profunda e transformadora.
Suas Confissões continuam sendo um dos testemunhos mais poderosos sobre o arrependimento e a graça implacável de Deus.
Como Bispo de Hipona, seus escritos sobre a graça, o pecado e a Trindade moldaram a teologia ocidental, tanto católica quanto protestante, para sempre.
Mas e a graça para aqueles que parecem estar além de qualquer alcance? Conheça Moisés, o Negro ou Aba Moisés (330-405 d.C.), da Etiópia.
Moisés não era um estudioso; ele era um líder de gangue temido, um ladrão e um homem de violência brutal.
Fugindo da justiça, ele se refugiou em um mosteiro no deserto. O que ele encontrou lá não foi apenas um esconderijo, mas a Cristo.
A transformação foi radical. O homem violento tornou-se um gigante espiritual, conhecido por sua profunda humildade e compaixão.
Sua vida é a prova viva de que não existe pecado tão profundo que a misericórdia de Deus não possa alcançar e redimir por completo.
Em seus últimos anos, quando o mosteiro foi atacado por bárbaros, ele instruiu os monges a fugirem, mas ele e outros sete optaram por ficar e foram martirizados (c. 405 d.C.).
Esse ato de martírio e não-violência marcou o fim de sua vida redimida.
O que essas vidas nos dizem hoje? Que devemos celebrar a unidade de vários povos dentro da mesma fé.
Elas nos lembram que as bases do cristianismo são mais profundas e diversas do que imaginamos. Antes mesmo de existir o cristianismo na Europa, existiam igrejas espalhadas pela África e Oriente médio, cujos mestres moldaram a nossa fé.
Estes não são heróis "africanos". Eles são heróis cristãos. A história deles é a nossa história.

